"Sarajevo é brincadeira/Aqui é o Rio de Janeiro"...
Não sou lá de numerologia, e sei que isso pode esconder uma inclinação pouco pragmática, mas minha inclinação é mesmo o pensamento mais solto, aliás números é o que mais a imprensa e os institutos têm pra oferecer, então pretendo oferecer-lhes coisas diferentes, ideias.
O que estamos (ainda) assistindo por esses dias é a tentativa terrorista dos bandidos, mas de um terrorismo sem ideologia, ou um terrorismo de instinto de conservação, por assim dizer, de gerar pânico e medo na população. Por outro lado, a reação policial tem sido correta, inclusive em relação aos direitos humanos, que um certo fascismo popular e populista critica, e vocês sabem os meios onde se propagam e as pessoas que o veiculam. Ficou provado de todo modo a ausência de efetivo policial satisfatório e de equipamentos para essa resposta do governo estadual, tanto que necessitou de auxílio das forças armadas e da polícia federal. A reação dos traficantes à implantação das UPP's acelerou o enfrentamento com um dos locais de maior criminalidade carioca, a região da Penha. Forçou, de certo modo, ao governo reorganizar seu plano em direção à zona norte, pois as melhorias das UPP's estavam se dando primeiramente na Zona Sul, se por um lado em morros menores (a Rocinha e o Vidigal prosseguem incólumes) por causa do parco efetivo policial, não poderia deixar de causar desconfiança na população da zona norte de um acusado elitismo de Cabral (ou a mais geral de que só se está fazendo isso por causa da Copa e das Olimpíadas, mas, ainda sendo esses os motivos iniciais, espero que os efeitos permaneçam como "legado" de ambos os jogos). É preciso que as UPP's sejam também "Unidades de Políticas Públicas", como inteligentemente disse o candidato ao governo pelo PSOL nas últimas eleições. Outra coisa ainda é o controle sobre as mesmas, para que não se tornem novas milícias, como levantou José Padilha, diretor de Tropa de Elite (e estamos frente a um Tropa de Elite 3, documentário ao vivo e bem mais realista e inesperado que uma ficção pode ser).
Outra coisa deve ser dita nesse momento um pouco fascistoide e moralista: muito (não digo TUDO) do que está ocorrendo teria sido evitado se a moral conservadora brasileira não impedisse (como ainda impede) a legalização de drogas, ao menos da maconha e, a meu ver, da cocaína também (um caso como o Crack é mais delicado). Na Holanda a maconha é legalizada e existem clínicas para dependentes químicos (que no Brasil são 20 % da população que usa drogas ilegais, segundo ouvi numa dessas transmissões desses dias sobre a operação policial). O dinheiro proveniente da venda legal de maconha (para não falar dos empregos diretos e indiretos criados), os tributos que o governo ganharia (como ganha tanto sobre a taxação dos cigarros e em menor medida das bebidas) excederiam as necessidades financeiras dessas clínicas e esse excesso poderia ser investido na saúde como um todo também. Por que você pode consumir álcool (com moderação, dizem os comerciais, que poderiam ser estendidos às drogas hoje ilegais que citei em favor da descriminalização) e tabaco, e não pode algo tão menos corrosivo como a maconha?! O que está ocorrendo é, sim, culpa de todos nós, de um modo direto ou indireto, de um jeito ou de outro. Mas não é com o moralismo (como não é somente com repressão policial) que resolveremos nossos problemas sociais.
E nisto, ao menos nisto, penso... que ninguém pode dizer que não sou pragmático.
Walter Andrade