22 de junho de 2011

As festas juninas e suas tradições esquisitas...

Época de festejos e quadrilhas, balões (e baloeiros) e milho cozido, o mês de junho vai descrevendo seu trajeto pelas bandeirinhas de papel colorido e pórticos de bambu. Há uma poesia nisso tudo, claro está. Pelo menos no Rio, as quadrilhas do bem (as de festas juninas) ainda não gozam do prestígio midiático das Escolas de samba (porque alguma escola tinha que receber atenção especial nessas terras de Cabral!). Talvez, só talvez, será bom que permaneça assim: o carnaval glamour é da tv e do turista, as festas juninas são mais do povo.
Mas não é exatamente sobre isso que eu, que gosto tanto de festejos como de benzetacil, vim falar. Outros já notaram o impressionante grau de intimidade entre o fiel brasileiro e aquele outro santo do mês: o Antônio. Colocam-no de castigo, de cabeça pra baixo dentro d’água até que arranje o casamento tão desejado. Imagino sempre o santo perdendo as estribeiras e xingando em latim toda vez que um seu milagre é desfeito por um pedido de divórcio. Mas hoje, fiquei sabendo de outras tantas liberalidade que, positivamente, devem deixar o santo de cabeça quente: a corrida das casadoiras para pegar, sentar e até, pasmem, tomar o chá de seu pau! Calma, explico: parece que na procissão de Santo Antônio existe mastro, um pau (que, parece óbvio, são os homens que carregam rs) no qual as talvez futuras noivas precisam encostar, as vezes sentar em cima e, pelo que foi mostrado na reportagem, até mesmo tomarem o chá que é feito dele. É o pau da bandeira de Santo Antônio. Tudo isso para arranjarem um marido, ou uma mulher, o caso dos homens que procuram o milagre de Santo Antônio. Eis aí um bom tema para uma pesquisa de antropologia (só não sei se o Santo gostaria dessa intromissão acadêmica no assunto)!

Bruno Silva

20 de junho de 2011

Google - O Hegel do século XXI


A Internet sucede à Era do Rádio e da TV, ou inaugura a era midiática "ativa" frente à "passiva". Na net você escolhe (ou lhe é apenas sugerido) o que ler, ouvir, ver, escrever... na hora em que você desejar. De e-mails a chats em tempo real, de jornais atualizados à pornografia, de filmes a jogos, está tudo à mão. E, para além dessas faces "lúdicas", cresce a olhos vistos projetos eruditos, como os do Google (Google Art Project, Google Livros, Google Acadêmico, Google Earth, Maps...). Chocado (positivamente) com esse alargamento do âmbito do mundo virtual - diríamos um Universo Indeterminado ou Infinito (e que falta faz não ter lido um Matrix...) - procurei descobrir o ganho utilitário disso tudo. Talvez a ampliação dos acessos e um ganho pecuniário correspondente? Sim, "nada está fora do mercado", poderíamos hoje dizer (e aqui eu salvo o materialismo). Porém é preciso ir além do limitado utilitarismo para ver o outro lado, o ideal do conhecimento total e totalizante sobre o mundo. Pois penso que o Google atualiza - a seu modo - o ideal filosófico do século XIX (que já havia aparecido noutros séculos), de Hegel e Marx e tantos outros. A ambição do saber generalizado e totalizador, a disponibilidade de fontes do século XV, XVI a qualquer pessoa do século XXI. Visitar centros de arte de Florença, Veneza, Paris, sem se locomover. Visitar sua própria casa pelo Google Earth! Dar-se o olhar do outro sendo o mesmo. Se para Hegel o real é racional e o racional é real, o Google responde que o real é o virtual e o virtual é o real.


Walter Andrade

Ps (que já não faz mais sentido, já que não escrevemos aqui à tinta): Você "curtiu" o Google Art Project? Então ficará orgulhoso de um projeto brasileiro (ao que parece anterior!) semelhante, o Era Virtual Museus. http://www.eravirtual.org/

14 de junho de 2011

GERAIS - Primavera Vermelha, Sarney e FlamengoxVasco

Depois da Primavera de Praga, e em meio à Primavera Árabe, o Rio de Janeiro assiste e participa do que chamaríamos, provocativamente, de uma Primavera Vermelha: não é o vermelho de rosas, nem o do sangue que o Governador talvez esperasse ver derramado ao mandar a tropa de choque invadir o quartel dos bombeiros, mas o vermelho da cor da corporação, das faixas e bandeiras em sinal de apoio à causa dos bombeiros. O governador pretendeu “jogar água” nas reivindicações da classe e decretou a prisão de todos. Agora, vai colocando a lição do florentino Maquiavel em prática: o mal todo de uma vez, o bem aos poucos. É assim que ele vai, à conta gotas, “atendendo” algumas reivindicações: soltar os bombeiros, talvez anistiá-los e, no final, parecerá um buona gente, mesmo que não dê o aumento almejado. É um perigo cair nesta história.

Falando em história, tem gente que anda aflita por ocultá-la. Se existem os negacionistas no campo da história do nazismo, o Brasil tem visto os “ocultacionistas” sempre na ativa: O Sarney, praticamente um personagem do Antigo Testamento, andou dizendo que é necessário que os documentos secretos não percam de todo este título. Diz-nos o senador que tais documentos precisam ser preservados, para não causar feridas. Ele, que já tentou apagar da história do congresso o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. São duas atitudes distintas em relação à história: ocultar e apagar. É o velho princípio do arcana imperii (pai dos segredos de Estado), postulado pelo historiador romano Cornélio Tácito, que escreveu na época do imperador Tibério, a quem não me admiraria que o Sarney tivesse conhecido e de quem tivesse sido amigo de infância! É pra chorar!

Mudando totalmente de assunto, e para que o amigo leitor não se despeça cabisbaixo e descrente do próprio mundo, uma provocação que meu amigo Petrus Inutilis me contou: já cansados com a avacalhação rubro-negra, torcedores do Vasco fizeram uma pequena pesquisa nos anais do futebol carioca e descobriram que o Flamengo é mais vice do que o clube da Colina. A maneira flamenguista de ver a situação: “Ta vendo, até nessa disputa o Vasco é vice do Mengão”! É pra rir!

Bruno Silva

9 de junho de 2011


Porque se uma imagem diz mais que mil palavras, duas devem dizer pelo menos dois mil e onze!

Walter Andrade

6 de junho de 2011

Bombeiros pedem Socorro...

Não poderíamos deixar passar em branco - em paz, pois paz não há - o que vem ocorrendo no caso dos bombeiros do Rio de Janeiro.

Assistindo ao JN do último sábado (04/06) fiquei chocado... com a edição antigreve da Globo (já falamos disso num post sobre a greve dos rodoviários, um dos primeiros post's do blog), em discurso afinadíssimo com o do Senhor Cabral (que chamou aos manifestantes de "vândalos", "irresponsáveis", discurso que lembra muito o delirante de Muammar Kadhafi, quando disse que o "povo o amava" e chamou aos rebeldes líbanos de "jovens drogados"), bombeiros que levaram "mães e crianças" para a manifestação - é preciso chamar a atenção da não-naturalidade desta fórmula, pois as mulheres pareciam, na edição da Globo ("esposas se reuniram para fazer comida para seus maridos") e nas palavras do Governador, simples submissas e manipuladas pelos seus cônjuges, numa dissimulada mensagem católica que impõe a imagem da mulher como simples esposa/procriadora e de que assim "política é coisa para homens" (as mulheres participaram até da Revolução Francesa Vossa Excelência!). Pois Cabral, contraditório, não respeitou as tais "mulheres e crianças" mandando o Bope invadir o quartel dos bombeiros e prender os trabalhadores..., 439 pessoas... A reivindicação? aumento salarial! Os bombeiros guarda-vidas, por exemplo, querem salário mínimo de R$ 2 mil (líquido) para os soldados.

Já as associações propuseram que a reivindicação fosse modificada de forma a se adequar à Lei Estadual 279/79, que dispõe sobre a remuneração dos policiais e bombeiros militares fluminenses. A proposta das associações é que o soldo (salário-base do militar) passe dos R$ 334,27 atuais para R$ 662, valor do piso salarial dos vigilantes privados. Com isso, o salário líquido do soldado (que inclui gratificações e benefícios) passaria de R$ 950 para cerca de R$ 2.600.

Que a maior parte do salário seja de gratificação é um meio de ameaça permanente dos governos sucessivos, já que, como todos sabem, gratificação pode ser retirada a qualquer momento.

Por outro lado a atitude e as palavras de Cabral mostram um certo desespero, se fôssemos com Simone de Beauvoir diríamos o "medo da burguesia", já que como me lembrou Fernanda (além dessa ideia) a rede de saúde do Rio é totalmente dependente dos bombeiros. O Rio pode simplesmente parar. Qual é a ação de Cabral? BOPE! Repressão! Será que as 439 pessoas estão equivocadas e somente o Senhor Governador está correto? (A edição da Globo mostrou um bombeiro batendo num policial com uma marreta, como se os policiais não estivessem atacando-os com bombas "de efeito moral" e não só moral, spray de pimenta, prisão..., é sempre a teoria de que são os manifestantes "anárquicos" que atacam uma polícia que só revida em legítima defesa). O jornalismo, especialmente o global, não aplica a tal "neutralidade" que advoga empregar...

Hoje o movimento ganhou adesão da Associação de Cabos e Soldados dos Bombeiros, além de associações ligadas às Polícias Civil e Militar e outros servidores do Estado que se reúnem para discutir mobilizações em conjunto por melhores salários. A servidoria pública do Rio parece, enfim, ter acordado de seu sono de morte.

Fiquei de repente com a sensação de que estávamos no início do século XX...Será que haverá de se lutar novamente por simples direitos democráticos, o de greve e manifestação de protesto contra governos?

Walter Andrade

Ps: As informações mais jornalísticas foram retiradas do IG. O vídeo é da TV Brasil.