29 de setembro de 2011

Brasil versus Argentina; os dois versus o gramado ruim

O jogo entre Brasil e Argentina revelou algumas coisas e reiterou outras tantas. Primeiro: boa parte do que temos de bom no futebol nacional deixa de ser aproveitada. É preciso que seja obrigado por regulamento para que a seleção dê espaço aos que estão jogando muito nos seus times: Borges, Cortês, Jeferson, Lucas (na titularidade), Diego Souza e outros mais. Sem a pressão maciça dos empresários, a coisa até que funciona melhor! Segundo: o comentarista Casa Grande tem cujones para falar o que pensa e não se esconde atrás do cada vez mais lamentável Galvão Bueno. Terceiro: a continuar assim, a seleção vai ter que convocar atletas do futebol de praia, pois o gramado era areia pura. Por fim, o Neymar precisa começar a escutar as gravações das transmissões em que o Casa Grande comenta, e o Ronaldinho joga demais! É preciso comentar, também, a força que a torcida demonstrou, fazendo festa a todo instante!

Bruno Silva.

21 de setembro de 2011

O advento da Primavera

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la...
Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul..."  Este é um trecho de Primavera, de 
Cecília Meireles. O texto inteiro é muito lindo e longe de mim ficar passando sua precisão em revista: não se trata de um artigo acadêmico sobre a primavera (até porque, se fosse, eu jamais teria lido!). Não posso deixar de notar, contudo, que as mudanças em torno da primavera são menos metafísicas do que climáticas, muito embora essas mudanças tenham o dedo de monóxido de carbono dos homens. Não que as pessoas não saibam mais o seu (da primavera) nome; elas não sabem, isso sim, para que existe. O Rio, pelo menos, costumava ter duas estações apenas: verão e inverno. Elas continuam a existir, mas parecem estar mais misturadas. Primavera? No máximo como estado de espírito. Quanto aos passarinhos, não falta muito para que, em pleno vôo, sejam assados pelo calor e já caiam prontos para serem comidos. Não seria a primeira vez que aconteceria na história a comida cair do céu...


Bruno Silva

1 de setembro de 2011

Tristeza de livraria

Tenho uma tristeza profunda de entrar em livrarias. Os livros que não li (jamais lerei) me lançam para baixo, numa série de angústias que se cruzam e me recolocam em choque com as condições a que estou submetido. Não há dinheiro para tantas obras, nem tempo para tanta leitura. Sinceramente, talvez nem mesmo necessidade. Um Pessoa já disse: "Ler é maçada,/estudar é nada./O sol doira sem literatura./O rio corre bem ou mal,/Sem edição original". Drummond também: "A literatura estragou tuas melhores horas de amor".
É a pobreza do bolso, é a pobreza da duração. O dinheiro não resolveria: são muitos livros, não há tempo. A eternidade, se alguém merecesse tanta complacência ou castigo, também não: são muitos livros, não há porquê. 
O mandamento popular: escreva um livro, faça um filho e plante uma árvore (que outro livro destruirá!). O conselho pessoal: faça dois filhos, ou plante duas árvores, entre as quais você poderá estender uma rede e se deixar balançar por horas a fio. Talvez com um livro na mão...

Bruno Silva