27 de dezembro de 2011

Somos todos piratas, mesmo sem pernas de pau, olho de vidro ou cara de mau

"A pirataria é o meio que o pobre tem de participar da sociedade de consumo"

"A mais-valia, ou a (maior) parte do trabalho não-pago de um assalariado, nada mais é do que uma apropriação, expropriação, com palavras menos eufêmicas, um roubo, em suma, uma pirataria legalmente praticada pelos capitalistas"


"O pensamento é pirata": Nenhuma lógica de propriedade intelectual privada (que é recente, fruto do liberalismo) pode esconder esta verdade, a saber, de que todo pensamento é dialógico, logo é realizado sempre em relação com o outro, o que faz ruir a ingênua ideia de "pura criação" ou de "originalidade" no sentido pleno das palavras. Sem o outro não há um eu, que, na verdade, não há mesmo.

"Mesmo a arte se faz com piratarias: créditos não dados a inspirações ocultadas"

Estas são as minhas respostas com "frases fortes" a todos os repetitivos e monótonos jornalistas, que podiam estudar mais a fundo as ciências humanas e sociais e aprofundar debates, em vez de somente nos legar descrições pretensamente objetivas dos "fatos cotidianos".

Como veem, ando um pouco cansado de desenvolver longamente as ideias, e assim recorro aos aforismos, técnica já da Antiguidade, de dizer muito usando poucas palavras. De dizer, como Nietzsche, numa frase o que muitos levam livros inteiros para dizer (e muitos nem dizem!)

Walter Andrade

13 de dezembro de 2011

Roupas novas: a forma como as coisas mudam

Hoje, quando não comemoramos nenhuma data especial para o Traquitana, o blog aparece de cara nova. O motivo da mudança, como é frequente no mundo, foi ocasional. Nada tem a ver com a proximidade do Natal ou  Ano novo: nos últimos dias o lay out do Traquitana enfrentava problemas e acabava dificultando a leitura. Naturalmente, apenas uma pessoa registrou o fato para mim, o que dá provas da imensidão de leitores que já possuímos! Fui tentar resolver a questão, mas o modelo de lay out que utilizávamos, turrão, não se permitia alterações significativas. Quis experimentar outro, testar a aparência, mas foi um passo sem volta! Como na vida, a minha decisão acarretou uma modificação que não pude desfazer. A vida virtual, cada vez mais desejosa de substituir a vida real, vai aos poucos aprendendo seus defeitos!

Bruno Silva.

7 de dezembro de 2011

Fim da Escrita à Mão?

 
A MÃO ATIVA O CÉREBRO
31/08/2011



A palavra escrita no papel está ameaçada de extinção pelo computador. E não se trata de ser apocalíptico...

Na semana passada, uma decisão tomada nos EUA veio reforçar essa ideia que tanto atormenta os (cada vez mais raros) entusiastas do lápis, caneta e papel. Em ato inédito, o governo do estado de Indiana desobrigou as escolas de ensinar a escrita cursiva (aquela em que as letras são emendadas umas nas outras) e recomendou que elas passassem a dedicar-se mais à digitação em teclados de computador - decisão que deve ser acompanhada por outros quarenta estados seguidores do mesmo currículo. Oficializa-se com isso algo que, na prática, já se percebe de forma acentuada, inclusive no Brasil. Diz a VEJA o especialista americano Mark Warschauer, professor da Universidade da Califórnia: "Ter destreza no computador tornou-se um bem infinitamente mais valioso do que produzir uma boa letra". 

Um conjunto de pesquisas recentes na área de neurociência, no entanto, afirma que a escrita de próprio punho provoca uma atividade significativamente mais intensa que a da digitação na região dedicada ao processamento das informações armazenadas na memória (o córtex pré-frontal), o que tem conexão direta com a elaboração e a expressão de ideias. Está provado também que o ato de escrever desencadeia ligações entre os neurônios naquela parte do cérebro que faz o reconhecimento visual das palavras, contribuindo assim para a fluidez na leitura (diria-se aqui: se quem lê mais escreve melhor, o contrário também ocorre). Com a digitação, essa área fica inativa. "Pelas habilidades que requer, o exercício da escrita manual é mais sofisticado, por isso põe o cérebro para trabalhar com mais vigor", explica a neurocientista Elvira Souza Lima, especialista em desenvolvimento humano. Isso só vem reforçar a complexidade do problema sobre o qual as escolas estão hoje debruçadas. 

O hábito da escrita vem caindo em desuso à medida que o computador - cujo primeiro chip foi traçado pelo americano Gordon Moore de posse de um velho lápis... - se dissemina. Lembro até de ter ouvido, não sem riso e alguma cumplicidade, de um colega no mestrado: "acho que não sei mais escrever sem backspace!". 
 
Até aqui, foi a palavra eternizada em papel (ou pedra, pergaminho, papiro) que se encarregou de registrar a história da humanidade, não raro em garranchos deixados por seus protagonistas. O computador traz uma nova dimensão à aquisição de conhecimento e à interação entre as gerações que chegam aos bancos escolares. Para elas, escrever a mão corre o risco de se tornar apenas mais um registro do passado...guardado em arquivo digital! Como a foto cimeira...


 Adaptado de "Educar".

Walter Andrade

6 de dezembro de 2011

O fim de uma era: a entrega das chaves.

As chaves do 714, na Rua Júlio de Castilhos, serão entregues amanhã, pondo fim a uma era. O apartamento foi palco e cenário de várias entre as melhores coisas que nos aconteceram desde 2004. Ele testemunhou o início de amizades cheias de irritação e bons momentos, porém nunca abrigou discórdia profunda entre os amigos; viu reconciliações efêmeras de blindex; foi vinho, foi cerveja e foi cinzeiro.
Ponto de encontro efusivo e de encontros de alcova, o apartamento se viu diminuído quando do fechamento do escritório do Dr. Evanildo. Mas não se abateu de todo, antes se desdobrou ao máximo do apartamentalmente possível! Ocupávamos o sétimo andar, não o sétimo céu: a fossa, o desespero, a desesperança, tudo isso teve vez naquela pequenina janela sobre amendoeiras de uma Copacabana que não volta mais. Mas o mundo doía e pesava menos quando estávamos reunidos naqueles quarenta metros quadrados.
Os meus melhores amigos passaram por ali; muitos dos nossos melhores momentos foram passados ali. Um tempo que a roda viva carrega sabe-se lá para que paragens. 
É por isso que hoje, nas vésperas do grande golpe, eu estou escrevendo esse elogio amargurado do apartamento: berço e túmulo de uma felicidade sem projeto.

Bruno Silva

1 de dezembro de 2011

Pense rápido I: a expectativa de vida do brasileiro.

Nova pesquisa publicada hoje revela que a expectativa de vida do brasileiro que nasceu em 2010 é de 73,5 anos de vida. Mas o adiamento da cova só é válido para os que vieram à luz no ano passado. Quem nasceu em 2009 leva uma desvantagem de 3 meses e 22 dias. Já os de 2000, segundo os indicadores para aquele ano, viverão 3 anos e 10 dias a menos. Eu me pergunto: qual a indenização para os que empacotarem antes? E mais: dá pra comemorar, se a expectativa de vida do planeta é cada vez menor?

Bruno Silva