29 de fevereiro de 2012

Le Carnaval Soleil


Cirque du Soleil
Unidos da Tijuca 2012

 







O carnavalesco Paulo Barros é, sans doute, un (malin) génie. Reinvenção do carnaval, inventividade fantasista, psicodélica, insólita, a criação adjetivada do artista. "Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim... olha que a rapaziada está sentindo falta, de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim", resposta brilhante uma vez dada, segundo a "lenda", por Paulinho da Viola à Benito di Paula que estourava, ano após ano, tocando samba no piano, e que eu entendo (ou reinterpreto com a ambiguidade e polissemia da canção) como provocação à Bossa-Nova - "toda bossa é nova e você não liga se é usada...todo carnaval tem seu fim" - aqui cito-as à guisa de algo que quero dizer sobre a Sapucaí. Qual foi o último grande samba-enredo de carnaval? Na minha memória recente só chega o da Mangueira sobre Cartola ("Descendo a ladeira/Com o trio da Mangueira/Doce Cartola sua alma está aqui", 2002!). Hoje, ontem e anteontem cada vez mais se tem ganho o Carnaval com desfiles "técnicos" (como já na década de 1990 conquistava o caneco a Imperatriz), caso de escolas como a Beija-Flor (escancaradamente apoiada pela Globo), e a Unidos da Tijuca (da qual nem se lembrará o samba campeão deste ano, como muitos da Beija-Flor). As escolas de samba tradicionais (isso aqui não é uma agremiação, é uma escola de samba!) como Portela, Mangueira, Mocidade, Império Serrano, Vila Isabel (tantas!), têm sido preteridas em sua autoridade no samba por um carnaval que a cada ano mais se parece com o Cirque du Soleil, que deveria propor a Paulo Barros a direção de um espetáculo, por certo de grande fortuna!

Ademais, a tal diferença entre o 9,5 e o 10 pode ser compreendida, mas entre 9.9 e 10... Algum jurado carnavalesco (dos quais nem sabemos sequer mais a profissão!) explicaria sem hesitar uma diferença de 0.1? Há algum tempo a diferença (se era pra existir) era de pelo menos 0,5 ponto, o que dava maior credibilidade às notas (porque pressionava a consciência do jurado a notar uma diferença mais concreta entre as escolas). Hoje, você, um hipotético jurado, pode sair dando 10 por princípio e escolhendo as escolas que você não quer que sejam campeãs e dar 9.9, 9.8, 9.7... O dado de subjetividade (sempre ineliminável no todo) tem hoje um grau de decisão muito grande, da qual a objetividade (pois há de haver alguma!) se enciuma, inveja e reclama. E não só ela! Denúncias de favorecimento à Inocentes de Belford Roxo no Grupo de Acesso, tiranicídio de rasgação de notas em São Paulo... parece que não sou sozinho na minha desconfiança.

Para evitar a vitória sem mais dos desfiles "técnicos" dever-se-ia ainda aduzir um critério, algo como "Empatia com o Público", na qual sairiam na frente aquelas escolas que levantassem os espectadores das arquibancadas, escolhidas pelo "povo" como as vencedoras. Queria que lembrássemos dos sambas campeões dos anos (e pra isso eles teriam de ser muito bons, como não se tem estimulado mais a serem, já que escolas com sambas-enredo fracos, fracos ganham 10!), não das acrobacias de circo na Sapucaí. Do contrário o carnaval corre o risco de tornar-se cada vez mais - a Grande Rio quer contratar Paulo Barros... - um Cirque du Soleil, belo, fascinante, intrépido... mas fora de tempo e lugar! E pra classe alta/média/estrangeiro ver...

Walter Andrade

Ps: Este ano o Cacique de Ramos, Patrimônio Cultural do Rio e hors concours, foi homenageado pela Mangueira e desfilou na segunda de carnaval na Sapucaí pela primeira vez na história.  Na terça foi a vez da Mangueira ir pra Rio Branco, no desfile do Cacique de Ramos. Naquele dia ouvi o diretor do Cacique dizer no microfone "Aqui se vive o verdadeiro carnaval do Rio de Janeiro, com o Povo". Vendo e participando daquela confusão organizada, não tive meios de discordar...

14 de fevereiro de 2012

Cadê a rede?

No texto que escrevi anteriomente, ainda acreditava que a felicidade cabia numa rede. Mas ela não cabe, não. Porquê? Porque me levaram a rede num dia de calor. Dava pena de ver as paredes nuas! A casa ficou desproporcional sem aquele pano pendurado que era, para mim,  precipício e pára-quedas. Raptaram o meu sossego e nem sequer deixaram bilhete para o resgate!
(...)
Uma lenda muito antiga ensina que o homem desceu das árvores e foi aprendendo a andar cada vez mais ereto, até conseguir ficar de pé sem que isso representasse grandes desafios de equilibrio. Esse homem, que no início não era homem, não era nada... esse homem trocou as frutas pela carne vermelha, amaldiçoou o pequenique e bendisse o churrasco. Acontece que eu estou a meio caminho da evolução: quero a carne e quero a rede! Luto pelo indulto da eterna penitência que é estar de pé!
A felicidade que eu tinha caiu da rede... mas nao morreu! Ela não pode morrer, porque está, para sua segurança e para a nossa, espalhada por vários cantos, contida em várias coisas: chalé, cachoeira, mulher morena, café, comida mineira...
Há quem diga que a felicidade é encontrar finalmente o seu lugar ao sol!
Particularmente, eu tô atrás de sombra...

Bruno Silva