27 de março de 2012

Urbana Legio Omnia Vincit

Os fãs de Legião Urbana não precisamos nem de tradução para o título desse texto, mas vale o registro: Legião Urbana Vence Tudo. Também não será necessário explicar o porquê do que segue escrito. Bastará lembrar das palavras iniciais de uma música das menos conhecidas da Legião: "Eu sou Renato Russo, eu escrevo as letras, eu canto. Nasci no dia vinte e sete março..." (Rinding Song/  disco: "Uma outra estação").
O líder da banda, que afinal e infelizmente não venceu tudo, faria aniversário hoje. Acho mais apropriado fazer uma homenagem agora, deixando o dia de seu falecimento (11 de outubro) seguir em luto.
Estive pensando na importância que essa banda teve (e talvez ainda tenha) para a juventude. A minha geração, os primeiros órfãos, aprendeu violão tocando "Que país é este?", sonhando com os arranjos mais badalados como o da versão acústica de "Teatro dos Vampiros". Aprendemos também a procurar significados ocultos por trás das letras, mensagens subliminares. Aprendemos, de forma mais geral, a prestar atenção nas próprias letras. Para muitos, os discos da banda foram a porta de entrada para um convívio mais intenso com a escrita, com a poesia. Na verdade, Legião Urbana é o começo de muita coisa.
Ser legionário, hoje, soa a algo retrô; exatamente como as camisas em estampa xadrês, que o Renato Russo já usava antes da voga. Mas, pelas praias sem progresso, quando tem um grupo reunido em torno de fogueira ou garrafas, eles continuam dizendo: "todos os dias, quando acordo, não tenho mais o tempo que passou..."

Bruno Silva

11 de março de 2012

O homem; as viagens... de ônibus!

Eis um trecho do brilhante poema de Carlos Drummond de Andrade: "O homem; as viagens", publicado em época tão recente quanto seja 1973, quando a possibilidade de se chegar a Marte era mais remota do que hoje!

"O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão.
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para o Lua
desce cauteloso na Lua
Pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte - ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?"
(...)

Dispensam-se maiores comentários sobre a poesia, que parece ter algo a ver com a ida (terá ido?) do homem à Lua. Fala, claro está, da insatisfação e inquietação do ser humano, da vontade de ver o novo, errar de novo.
Ocorre que, atualmente, a ida a outra parte (digamos: Marte!) coloca-se quase como uma questão de manutenção da vida: não falta só diversão, falta espaço para tantas ruas; ruas para tantos carros. Ponho-me a imaginar marcianos em seus cinemas, tremendo com a possibilidade de uma invasão terráquea ao seu planeta. Um amigo e autor no blog esteve por esses dias numa infernal viagem de ônibus interminável! Veio-lhe, então, a inspiração que eu, sem prévia autorização, dou a conhecer:

"Vai vir um dia em que a malha viária será menor do que o comprimento de todos os automóveis perfilados; nesse mesmo dia não haverá terreno para se construir. Os prédios ficarão mais altos, talvez os carros subam na parede, talvez nos mudemos para Marte. Talvez os prédios, de tão altos, cheguem até Marte. Vias expressas interplanetárias sobre as empenas desses edifícios...caberiam mais alguns carros!
Chegaríamos em Marte na metade do tempo, iríamos mais à Marte, finais de semana incríveis, em Marte! Casa de campo! Iates! Carro off road pra fazer trilha, em MARTE! E vai chegar um dia em que não haverá mais espaço em Marte..."
Marte humanizado.

Bruno Silva/ J.G.

6 de março de 2012

Ressurgimento do Carnaval de rua do Rio?

(foto aérea do Monobloco/2012)
Pode ser que eu esteja apenas ficando velho, mas não consigo ver essa melhora tão propagada por todos no carnaval de blocos no Rio de Janeiro.
A prefeitura e o Estado certamente gostam, pois com um patrocinador fixo pagando milhões para exibir sua marca (que nem é a melhor delas!) e jogando a responsabilidade de organização, segurança e horários a seguir nos blocos, deixam seus ombros livres e leves pra curtir a festa.

As mudanças que eram realmente necessárias estão sendo feitas, deve-se ressaltar: mais banheiros químicos (apesar de, em alguns casos, mal distribuídos), um policiamento mais ostensivo e presente e, principalmente, a coleta mais eficaz do lixo deixado pelos foliões.
Porém, em minha opinião, estão querendo bahianizar nosso carnaval! Estão querendo colocar todos (ou a maioria esmagadora) os blocos no Centro, na Avenida Rio Branco, como se fosse um corredor, uma espécie de Barra/Ondina em que os foliões se aglomerassem e ficassem no constante ritmo das ondas, indo com um bloco (Monobloco?) e voltando ao início da avenida para acompanhar outro. E assim durante o dia todo em nosso Mauá/ Cinelândia.

Não acredito que alguém que tenha ido ao Monobloco em Ipanema, ou em Copacabana, com 80 mil pessoas, goste ou vá no desfile da Rio Branco, com suas 500 mil. O Monobloco foi nascido na zona sul, e tiraram um pouco de sua originalidade quando o mudaram de lugar. Seria o mesmo que tirar o Suvaco do Cristo de baixo do suvaco do Cristo Redentor. Sinceramente espero que não viva para ver 2 ou 3 milhões de pessoas se espremendo no circuito Paes/Cabral para ver o "Virilha do Teatro" passar, acompanhados de milhares de uniformizados dentro da corda com seus abadás.

Mas pode ser que eu esteja apenas ficando velho.


Thiguim