27 de novembro de 2012

Vinil x Blue-ray

"Nunca mais apareceu ninguém como Tom Jobim!", "Jamais haverá outro grupo como The Beatles!", "Renato Russo revira-se na cova quando escuta o dito Rock dos nossos tempos!". Em geral, frases como essas são prelúdios para o arremate saudosista: gostaria de ter nascido naquela época!
Este sentir-se deslocado no mundo é uma instituição inabalável do nosso tempo. Ignoro se os homens nascidos nos fins do século XIX experimentavam a mesma sensação diante dos bondes e da iluminação à gás. É provável que sim. Mas os de hoje padecem muito mais desse mal-estar!
Argumentos favoráveis ao hoje existem: a informação circula mais, há mais liberdade ("prá escolher a cor da embalagem"?!), avanços da medicina, encurtamento das distâncias...
O ontem, com o perdão do trocadilho, não fica para tras: respirava-se melhor ar, ouvia-se melhor música, dormia-se em maior silêncio, comia-se melhor...
É difícil uma decisão convicta: "gostaria de conhecer a boemia de verdade, mas Deus me livre morrer de tuberculose!"; "é muito bom poder, com apenas um toque, ter acesso à toda obra de Noel Rosa, mas seria melhor se ele estivesse vivo!"
De que lado você está? Vinil ou Blue-ray? Bem, você está lendo isso numa tela de computador ou qualquer gadget. Se fosse num jornal, você teria chegado até aqui? Difícil saber. O certo é que, se os bons tempos se foram, é reconfortante a possibilidade de um download!
Mas não fique deprimido, você ainda pode enfiar sua face em algum bom e velho book de papel, ou morder uma Apple das que se encontram nas quitandas!

Bruno Silva

p.s.: Ia ilustrar o texto com uma imagem que fizesse alusão ao título, mas a utilizada não só é pertinente ao assunto, como também constitui um exemplo da criatividade que podemos conferir no endereço seguinte: http://www.ciadodesigner.com/2011/03/sobreposicao-de-fotos-passado-x.html

22 de novembro de 2012

Que mané Belle Époque!

De todos os conceitos que a história criou ou cultivou, o tal de Belle Époque é, sem dúvidas, um dos mais metidos a besta! Nas vezes em que sou solicitado a falar sobre o assunto sempre procuro, sem grandes sucessos, traduzir para o português esta noção que não se refere à outra coisa senão àquela época, entre o fim do século XIX e o início do XX, quando a então capital do Brasil passava por um processo de importação de costumes franceses; quando se ouvia um "Viva a França!" ao se encontrarem dois brasileiros, possivelmente na Avenida Central (hoje Rio Branco), indo ou vindo de alguma confeitaria com ares parisienses. O ridículo chegou ao ponto do prefeito Pereira Passos, não conformado com o alargamento das ruas, encomendar pardais e estátuas, tudo para transformar a terra de São Sebastião em um protótipo tropical da Cidade Luz.
Hoje, nossa Belle Époque C'est la merde! Não faltam pardais em todas as avenidas, estrategicamente posicionados e com intenções menos nobres do que aquelas pobres avezinhas de penas cinzentas e apetite pouco exigente. Os pardais de hoje, longe de comporem sinfonias para o sabiá, como os de antanho, não cantam nem avoam, mas são capazes de fazer qualquer um chorar! As ruas, contam-se nos dedos as que foram duplicadas. São tempos ruins para se ter um carro. Voltemos ao tílburi!

Bruno Silva

12 de novembro de 2012

Sardinhas sem Rio Card

O tempo consagrou uma expressão que hoje em dia talvez mereça revisão: passageiros como sardinhas em lata! Os apreciadores desse bom quitute, também conhecido como frango do mar ou pastel, sabem bem que, no geral, são três peixinhos por lata, o que dá uma margem de conforto não encontrada nos lotações, trens e BRTrens! Nossos gestores, se estivessem no ramo alimentício, jamais permitiriam tamanha expansividade! "Qual!? Cabem pelo menos umas cinco sardinhas por lata, é só espremer bem!"
É provável que, assim espremidinhas, as sardinhas mais se assemelhassem ao patê, atum ralado ou fiambre (se você come sardinhas em lata, possivelmente sabe do que estou falando).
Abaixo à degradante (para as sardinhas) comparação do transporte público às latas da democrática iguaria, carrasca dos figueiredos! Passemos ao outro nível! Somos todos patês; o que vai muito bem com o pão (que o diabo amassou)!

Bruno Silva

7 de novembro de 2012

Trens, Metrens e BRTrens

Com o passar dos anos nos acostumamos a reclamar dos trens urbanos de transporte coletivo, sempre lotados e sucateados, chegam a ser referência de desconforto para a população carioca, que, sempre muito criativa, já apelidou os novos BRT's de "BRTrens", pois vivem lotados (embora ainda não sucateados)! Penso eu: será tão difícil dimensionar a demanda diaria por tal serviço? Obviamente, não! Nossos gestores sabem muito bem fazer contas, mas nesse caso e em muitos outros, a matemática é mais perversa; porém, bem simples: o lucro é diretamente proporcional ao número de passageiros e inversamente proporcional ao investimento. Ou seja: mais pessoas em pouco espaço e maior velocidade = dinheiro pra caráleo! E nesse ponto, o atual PrefeitoGovernadorPresidente do RJ foi genial! Temos novos trens orientais nos trilhos do Metrô; são bonitos, geladões, painés com LED que iluminam o percurso no mapa e se apagam a cada estação (achei o máximo essas luzinhas), mas a sensível mudança é o conforto... para os que vão em pé!!! Possui, notavelmente, maior espaço livre nos corredores, em detrimento dos assentos, claro! Entendeu agora? Mais pessoas... Mesmo espaço...
E os BRT's? E a transoeste? Aí existe o dolo com requintes de crueldade. Não vou nem discutir a relevancia do modal, se não ficou claro, que fique agora: Fuck the rodovia! Keep calm and vamos de trem! (não esse lotado, claro!) A perversidade está no produto vendido: "você, trabalhador que depende do transporte público para sustentar sua família..."; "com a transoeste, você faz o trajeto casa-trabalho na metade do tempo... Qualidade de vida e talz". Sacou? "metade do tempo"... o dobro do lucro! A lógica é essa: Nunca Resolveremos o Transporte, pois resolvido foi dessa forma.

J.G