19 de junho de 2013

Fora do campo, no meio das ruas



Entre o Redentor e a Igreja da Penha iluminada
Chego na Ilha do Governador
Como a avenida Brasil é grande, meu Deus!
Estou entre dois símbolos piedosos
E meus iguais, a esta hora, marcham nas ruas
Há um rio de refresco correndo pelo país:
Pimenta nos olhos
"Em meio a tantos gases lacrimogênios..."
Penso na multidão anônima dos que, de joelhos, subiram os degraus da ermida
Eis que, agora, outros sobem de pé a escadaria da Alerj,
O Congresso Nacional,
E tantos outros lugares aos quais, de ônibus, jamais alcançaríamos.

Bruno Silva



13 de junho de 2013

Na pista contra o negócio



Vândalos era o nome de um povo germano que por ter invadido o Império Romano (como outros tantos povos germanos à época) tornou-se termo pejorativo (somos herdeiros da cultura greco-romana né). Mas ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão (afinal os territórios romanos eram conquistados à outros povos também...). E é no fundo linguístico e além dele que essa romanidade receia ter seu domínio contestado pela "plebe" nas ruas brasileiras (o Rio já foi chamado de A Nova Roma séculos atrás).

O vândalo agora é inimigo interno (?). Intifada nas ruas contra a ação repressora policial e reclama-se que os "manifestantes não respeitaram o patrimônio histórico", ora, querem que "gases lacrimogêneos fiquem calmos..." fora da canção! (que nem são estritamente armas não-letais, como spray de pimenta também não...), no meio da fumaça, do medo, da correria: "Por favor: mirem bem! olha a Igreja aí...". Eu, que sempre fui meio iconoclasta, considero essa proliferação de lugares de memória, de tombamento de patrimônios históricos (para que nunca tombem!) um excesso memorial que tende a fixar a ideia de conservação de tal modo que as pessoas se sintam museólogas em tudo. E o receio dos governos, da mídia, das classes altas, é de que o povo brasileiro, sempre historicamente demasiado pacífico, ordeiro, quieto...acorde de vez, deponha-os de seus lugares cativos, de sua corrupção, tirem-nos de baixo do tapete vermelho dos gabinetes onipotentes, excluídos de suas dignidades ímpares e (logo) hierárquicas. Manifestação na Turquia tudo bem, no Egito que lindo, mas no Brasil? "Arruaceiros, vândalos!".

Saiu no O Globo (!) que 37 milhões de brasileiros não têm dinheiro para o transporte público [atentem mil vezes a esta palavra]. Depois no noticiário noturno (onde não reproduzem esta matéria...) fala-se que as manifestações impedem o "direito de ir e vir". Ora, as manifestações são justamente pelo direito de ir e vir (e de se manifestar indo e vindo)!. Estamos falando de um (des)serviço prestado à população por um cartel de empresas (nalguns casos de empreiteiras, como das Barcas S.A!), caríssimo (com aumentos regulares e bem acima da inflação), com poucos coletivos na madrugada, com o ônibus que passa direto e te deixa na pista.

E na pista ficaremos, mas não mais esbravejando sozinhos como o Muttley (o cachorro do Dick Vigarista, lembram-se?), porém em comunhão, afinal, como greco-romanos que afinal somos, sabemos que o homem é um animal social, político, ritual, que ri...mas que também reage.

Walter Andrade

9 de junho de 2013

Falecido conto do vigário, conto do Vigário falecido, sei lá...

Foto tirada no São João Batista. Cristo Redentor ao fundo. 
Morar na área nobre do Rio não é nada barato, como já sabemos. Ter o direito de dividir espaço com as amendoeiras, na Zona Sul,não é para qualquer mortal. Nada de surpreendente nisso. Agora, fui tomar conhecimento de que a vizinhança com as raízes do gramado também não é para qualquer defunto: o preço de um jazigo perpétuo no São João Batista - em Botafogo -pode chegar à vultuosa quantia de 300 mil reais!
Assustou? Então imagina isso: seus ossos descansando aristocraticamente no cemitério carioca e, de repente, não mais que de repente, para citar Vinícius de Moraes (que aliás jaz no São João Batista, assim como Tom Jobim, Drummond e tantos outros), sendo exumados sem autorização da família, indo parar sabe-se lá em qual cemitério! Foi o golpe de que tomei conhecimento assistindo ao noticiário da Record: um corretor que vendia o mesmo jazigo para várias pessoas; isto sem a autorização legítima dos antigos proprietários, num esquema de exumação fraudulenta.
 É o velho golpe do conto do Vigário, com o requinte macabro de estar associado à venda de tumbas! Nunca foi tão difícil viver, morrer e continuar morto aqui na boa sociedade carioca!

Para quem quiser ver a reportagem: http://noticias.r7.com/jornal-da-record/videos/edicao/?idmedia=51afdf860cf26f34e0263af5

Bruno Silva