Triste como se vulgariza tudo neste país (e não só aqui), do sertanejo de raiz tornado "batidão sertanejo"(!), do samba ao "pagode romântico", do forró tornado "aviões do". Agora ainda assistimos ao Rock virado happy rock, emo, hip-rock, new metal... Que mundo nos ficou! Ao que a indústria cultural e outros tantos fatores nos levaram!
E daí surgem ainda os cult's, do outro lado do espectro (os pseudos), que endeusam qualquer banda/artista doce (apenas ou quase bom) que surja num mar salgado...
Ah, este Brasil brasileiro que tem, quiçá, a melhor música no mundo, não por nacionalismo, mas exatamente por cosmopolitismo, por antropofagia criadora.
Lembro hoje (saudosamente já!) da década de 1990 - que em breve passará por um processo de "cultização" também -, na qual se emparelhavam ainda bandas/artistas como Engenheiros do Hawaii, Nação Zumbi, Angra, Djavan, (para ficarmos nos mais conhecidos apenas)... com a ascensão do "pagode romântico", do "axé" e do "funk" (ao menos aquele que ficou para a classe média televisiva e baladeira, sabe-se lá do "funk de protesto" que rumo tomou). Tivemos no âmbito internacional muita coisa boa ainda (Oasis, Pearl Jam, Radiohead etc.), mas já se sentia o avançar das correntes deletérias...
Hoje a defesa da boa música tem tomado um aspecto "cult" que também me incomoda, com um lado artificial e artificioso de artistas afortunados, entediados e sem vida, que não podem revolucionar verdadeiramente a arte como um dia Astor Piazzola, Jimi Hendrix, Miles Davis e a Tropicália o fizeram. O punk veio dos subúrbios londrinos... não quero dizer com isto que gente rica não possa fazer música "profunda", mas decididamente não com esta postura indiferente! (No mais, o próprio rock progressivo seria uma contraprova)
Hoje as "novidades" que ouço são o passado esquecido, as bandas quase desconhecidas que busco na net, os gêneros diversos como a música latina, o fado, o tango, o jazz, o blues, a MPB claro, tudo isso que passou também (tirante a música latina talvez) pelo tal processo artificioso de "cultização", porque é preciso que se lembre que são todos gêneros populares, populares eu disse. O jazz e o blues são apanágio da black music norte-americana! O tango dos subúrbios de Buenos Aires como La Boca, se o fado não for popular também eu de nada mais sei...
Parece que antes era "natural" ouvir música boa, era parte do Zeitgeist, da atmosfera, do "espírito do tempo"; hoje é um esforço - o esforço é incontornável - que tende a premiar o ouvinte com um status de culto...
Devemos ser, antes de tudo, não dever, e, depois de mais nada, iconoclastas.
Este texto é um desabafo. Pois não posso compactuar com a inautenticidade dos pseudos atuais (e receio ser confundido com um "cult").. É só mais uma forma - das inúmeras - de alienação, esta cultural.
Walter Andrade