12 de dezembro de 2013

A enchente é um fenômeno político

Por que será que, ano após ano, as enchentes "surpreendem" as autoridades? A Rede Globo, por exemplo, começou a se tornar o que é graças à cobertura ao vivo que realizou sobre a fatídica enchente de 1966. De lá pra cá, entre dezembro e março sempre tem Natal, Inundação e Carnaval! 
Ninguém deveria se demonstrar surpreso com os cataclismos estivais! Tudo colabora para sua ocorrência: fatores meteorológicos, sócio-econômicos e, principalmente, políticos. A enchente é um fenômeno político: o sistema de drenagem insuficiente (ou sua não-existência), a ausência de políticas habitacionais, a vista grossa para o arrasamento da natureza pelas grandes empresas que destroem os rios (destruindo suas matas ciliares). Tudo isso está diretamente relacionado com o resultado que as urnas consagram. 
Do mesmo modo que a seca e sua miséria se explicam pela política, a enchente guarda esse parentesco, essa filiação, com a classe governante. Pode-se, sem muito esforço, culpar o morador das palafitas, das beiras dos valões, dos subúrbios esquecidos: vocês jogam lixo nas ruas, os bueiros entopem, o lixo volta para vocês, numa espécie de jogo cíclico perverso; mas a coleta de lixo, as políticas de ocupação da terra, as obras de infraestrutura a a correta fiscalização das atividades que degradam o meio ambiente, isso é atribuição dos governantes. 
Cada bueiro entupido significará, nas próximas chuvas veranis, algumas centenas de notas de real para bolsos que não são os nossos. Assim, a chuva significa uma grande oportunidade: será que todo o dinheiro que sai dos cofres federais rumo aos municípios chega ao seu destino? Será que o montante recebido pelos prefeitos é integralmente utilizado para a solução dos problemas? Será que o orçamento feito em situação de calamidade pública esconde algo? Muitas questões e uma saída emprestada do Riobaldo de Guimarães Rosa: "eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."

O papel que se joga no chão tem culpa. O papel que não se cumpre, tem ainda mais.

Bruno Silva

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