11 de junho de 2010

GERAIS - Paradoxos, a Copa da Diferença e a Queda de Estereótipos sobre a África

Depois de longa espera, eis que a Copa começa, como quem vem do nada. Sim, porque quanto mais se anseia, por longo tempo, alguma coisa, seja ela uma pessoa ou um evento (ou uma pessoa que seja um evento), quando esta coisa aparece ainda assim nos pega de surpresa; quando o futuro se torna presente, gera sempre um acontecimento insólito.

A mídia (ou os media, como lembrava Du Bruni num outro post), lançou o slogan de que esta é a "Copa da Igualdade". Para variar um pouco (de verdade!) não pretendo nem aplaudir nem criticar o slogan, muito pelo contrário... eu talvez vá pelo avesso do avesso do avesso... e, prosseguindo os paradoxos, é bom enfatizar que a igualdade tem precisamente como meta garantir a diferença. É de fato o que uma África do Sul renascida depois do Apartheid nos mostra - com sua bandeira "arco-íris" (e nesse caso diferente da bandeira do movimento GLBTT) e seu hino multilíngue (e muito bonito diga-se de passagem...) -, isto é, que a existência de seres humanos com pigmentos diferentes (e crenças ou ceticismos diferentes) é algo que nunca deveria ter sido um problema histórico-sangrento (e nos remetendo a outras diferenças fratricidas, como a entre israelenses e árabes palestinos, que comentei num post recente). Como já dizia Humberto Gessinger "A diferença é o que temos em comum" - numa frase que resume tudo e nos oferece um alívio imediato.

A segunda coisa que me parece bastante importante, inclusive mesmo pelo seu caráter sutil, vêm das diversas imagens sobre a África do Sul - que ademais pode ensinar às pessoas, de um modo pouco escolar, que a África não é um país, mas um continente muito diverso -, imagens essas que mostram belezas naturais, belezas artificiais, as cidades, o povo sul-africano, brancos, negros (a maioria, mas de todo modo negros de feições diferentes, por provirem de grupos étnicos diversos), bairros mais pobres (nos E.U.A não os há também?!), e etcéteras. Em resumo, a decisão da FIFA de estabelecer um rodízio da Copa do Mundo entre os continentes possui esse efeito colateral (secundário seria uma palavra que diminuiria a consequência benéfica) de apresentar ao resto do mundo - pois se sabe que a Copa do Mundo é o maior evento esportivo do planeta, junto com as Olimpíadas - uma espécie de geografia natural e humana sub-reptícia, contribuindo para uma compreensão da complexidade da África do Sul (devendo-se estendê-la aos outros países do continente, em menor medida), contribuindo assim para a emergência de um continente africano que rompe com os padrões estereotipados, com as imagens que sempre nos vêm à mente quando pensamos na África: fome, pobreza, ausência de condições mínimas de vida. É claro que a África do Sul é um dos países mais ricos do continente... outros são realmente muito pobres... mas, de todo modo, não se pode reduzir a complexidade de um país, que dirá de um continente!, a apenas esses aspectos negativos. Uma outra África, possível porque real, surge aos nossos olhos, com belezas nunca dantes imaginadas, e assim nos ajuda a desconstruir os estereótipos negativos que foram impregnados em nossas cabeças desde crianças acerca do continente onde, segundo a ciência, nasceu a humanidade.

Walter Andrade

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