26 de novembro de 2010

Que outro tema poderia ser?! A Guerra Urbana Carioca

"Sarajevo é brincadeira/Aqui é o Rio de Janeiro"...

Não sou lá de numerologia, e sei que isso pode esconder uma inclinação pouco pragmática, mas minha inclinação é mesmo o pensamento mais solto, aliás números é o que mais a imprensa e os institutos têm pra oferecer, então pretendo oferecer-lhes coisas diferentes, ideias.

O que estamos (ainda) assistindo por esses dias é a tentativa terrorista dos bandidos, mas de um terrorismo sem ideologia, ou um terrorismo de instinto de conservação, por assim dizer, de gerar pânico e medo na população. Por outro lado, a reação policial tem sido correta, inclusive em relação aos direitos humanos, que um certo fascismo popular e populista critica, e vocês sabem os meios onde se propagam e as pessoas que o veiculam. Ficou provado de todo modo a ausência de efetivo policial satisfatório e de equipamentos para essa resposta do governo estadual, tanto que necessitou de auxílio das forças armadas e da polícia federal. A reação dos traficantes à implantação das UPP's acelerou o enfrentamento com um dos locais de maior criminalidade carioca, a região da Penha. Forçou, de certo modo, ao governo reorganizar seu plano em direção à zona norte, pois as melhorias das UPP's estavam se dando primeiramente na Zona Sul, se por um lado em morros menores (a Rocinha e o Vidigal prosseguem incólumes) por causa do parco efetivo policial, não poderia deixar de causar desconfiança na população da zona norte de um acusado elitismo de Cabral (ou a mais geral de que só se está fazendo isso por causa da Copa e das Olimpíadas, mas, ainda sendo esses os motivos iniciais, espero que os efeitos permaneçam como "legado" de ambos os jogos). É preciso que as UPP's sejam também "Unidades de Políticas Públicas", como inteligentemente disse o candidato ao governo pelo PSOL nas últimas eleições. Outra coisa ainda é o controle sobre as mesmas, para que não se tornem novas milícias, como levantou José Padilha, diretor de Tropa de Elite (e estamos frente a um Tropa de Elite 3, documentário ao vivo e bem mais realista e inesperado que uma ficção pode ser).

Outra coisa deve ser dita nesse momento um pouco fascistoide e moralista: muito (não digo TUDO) do que está ocorrendo teria sido evitado se a moral conservadora brasileira não impedisse (como ainda impede) a legalização de drogas, ao menos da maconha e, a meu ver, da cocaína também (um caso como o Crack é mais delicado). Na Holanda a maconha é legalizada e existem clínicas para dependentes químicos (que no Brasil são 20 % da população que usa drogas ilegais, segundo ouvi numa dessas transmissões desses dias sobre a operação policial). O dinheiro proveniente da venda legal de maconha (para não falar dos empregos diretos e indiretos criados), os tributos que o governo ganharia (como ganha tanto sobre a taxação dos cigarros e em menor medida das bebidas) excederiam as necessidades financeiras dessas clínicas e esse excesso poderia ser investido na saúde como um todo também. Por que você pode consumir álcool (com moderação, dizem os comerciais, que poderiam ser estendidos às drogas hoje ilegais que citei em favor da descriminalização) e tabaco, e não pode algo tão menos corrosivo como a maconha?! O que está ocorrendo é, sim, culpa de todos nós, de um modo direto ou indireto, de um jeito ou de outro. Mas não é com o moralismo (como não é somente com repressão policial) que resolveremos nossos problemas sociais.

E nisto, ao menos nisto, penso... que ninguém pode dizer que não sou pragmático.

Walter Andrade

3 comentários:

Thiguim disse...

Concordo com a opinião, tendo outra visão em apenas um ponto: cocaine. Lembremos que o crack nada mais é que uma forma mais tosca de cocaine, menos refinada. Cocaína esta que é uma droga que pode matar no primeiro uso (acelera os batimentos cardíacos a tal ponto que causa um infarto).

Tenhamos mais calma na questão de legalize, porque apenas com essa ação não se resolverá nada. Ou vocês acham que o Beira-Mar, o Nem e o Polegar virarão respeitáveis empresários caso o comércio de drogas (ilícitas) seja liberado?

Walter Andrade disse...

É, eu mudei de ideia em relação a cocaine também (por isso o riscado em cima da frase). O problema das drogas seria ao menos diminuído (a maconha é a mais utilizada) mas não terminado, existiria ainda heroína, crack, lança-perfume... por isso eu disse lá no começo que a legalização da cannabis não resolveria TUDO.
E li que é possível que o tráfico com as UPP's ganhe ainda mais! venda discreta, sem vultuosos gastos com armamentos nem com corrupção de policiais e mais clientela devido à própria pacificação!

Bruno Silva disse...

Interessante que o Jô Soares, no programa que foi ao ar nessa madrugada (25/03/2011) entrevistou um policial civil que participou das ações policiais no Complexo do Alemão. E disse com todas as palavras que o problema só se solucionará com a descriminalização da droga e seu usuário. Alertou para o dinheiro obtido com os impostos (tal como ocorre com a bebida e o cigarro) que poderia ser utilizado pelo governo. Ele perguntou se o policial concordava, mas já dizendo que, evidentemente, o policial não deveria concordar, mesmo porque é um policial e deve ter um discurso afinado com a legislação. O policial, naturalmente, não concordava, dizendo que para um menor empunhar uma metralhadora é porque já falhou a família, a saúde, a educação, a distribuição de renda, enfim, tudo o mais. Eu fiquei me perguntando se o playboy que sobe atrás ou manda buscar a droga vive nessas condições de carência total, ou se são apenas os moradores das comunidades que usam drogas. Francamente!

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