9 de janeiro de 2011

PENSAMENTOS SOLTOS - O lado existencialmente positivo da hierarquia

* Pirâmide de Chichen-Itza, México

A hierarquia está no trabalho, no ensino (locais onde é oficial e propagandeada), na família (dissimulada, às vezes mais manifesta), no namoro (implícita mas comum) e até na diversão (área comum e área VIP). Diz-se que nosso (meu, seu?!) povo parece ter um certo horror às diferenças sociais, às patentes. "Tudo junto e misturado" aparenta ser a última palavra-de-desordem. Admito que partilho desse asco ao "Senhor Doutor...", quanto mais ao "Vossa Excelência..." nada excelsa, os pronomes de tratamento nobres mais são fórmulas mofadas, amareladas em livros didáticos. O Brasil não é cerimonioso, ainda que seja muito ritual. Confesso que (mea culpa partiale) tenho lá meus preconceitos com Roberto da Matta por conta da ideia de que a novela das oito (nove? dez?) seja o grande locus de debate político (acho que é conceder demais às TV's, que se orgulham muito e o convidam bastante não à toa). Então pra saber mais sobre o que estou falando seria bom ter lido mais antropologia brasileira... Todavia quero chamar atenção sobre o lado bom da hierarquia: ela garante ao menos o distanciamento mais precário entre os homens (e as mulheres!), já que conquistado por razões de patente ou efeito do poder do dinheiro, esse que gera uma hierarquia mais flexível, não vinculada necessariamente a uma posição social x ou y (é o caso da compra de locais VIP's numa festa). Como dizia uma amiga minha, Taís codinome "Muga", trata-se de "Very Important Putão" no mais da vezes, e esse é um dos problemas também...

No meu caso, acho que a hierarquia vale, apenas existencialmente falando aqui, para garantir as pessoas contra "as discórdias da igualdade" (nunca pensei que fosse citá-lo aqui, mas isso é Francisco Suárez, teólogo espanhol [1548-1617]). É como "viver em sociedade sendo o mínimo sociável possível". Em alguns momentos isso é importante, pelo menos do meu ponto de vista misantropo, solitário e "alternativo". É um modo de garantir a mínima paz possível, distante das multidões massacrantes, irrespiráveis, malcheirosas. Por isso nada melhor que festas em locais VIP's (ou ao menos com um limite numérico) ou ao ar livre. Bom, ao menos ele continua sendo...


Ps (uma convenção, já que pós-scriptum só tem sentido numa carta à mão): Uma van passava com os gritos do cobrador arrebanhando gente para um local de seropédica "Social! Social!", lembro de ter respondido "Antisocial!!!", ao que o rapaz me olhou encabulado. Acho que era dia de choppada de adm ou algo assim...

Walter Andrade

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