21 de setembro de 2011

O advento da Primavera

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la...
Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul..."  Este é um trecho de Primavera, de 
Cecília Meireles. O texto inteiro é muito lindo e longe de mim ficar passando sua precisão em revista: não se trata de um artigo acadêmico sobre a primavera (até porque, se fosse, eu jamais teria lido!). Não posso deixar de notar, contudo, que as mudanças em torno da primavera são menos metafísicas do que climáticas, muito embora essas mudanças tenham o dedo de monóxido de carbono dos homens. Não que as pessoas não saibam mais o seu (da primavera) nome; elas não sabem, isso sim, para que existe. O Rio, pelo menos, costumava ter duas estações apenas: verão e inverno. Elas continuam a existir, mas parecem estar mais misturadas. Primavera? No máximo como estado de espírito. Quanto aos passarinhos, não falta muito para que, em pleno vôo, sejam assados pelo calor e já caiam prontos para serem comidos. Não seria a primeira vez que aconteceria na história a comida cair do céu...


Bruno Silva

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