5 de novembro de 2011

O Fim do Mundo

2012?

Espera-se pelo fim do mundo desde seu começo, ou melhor, desde o início da consciência dos homens. Este longo aguardo é, como se sabe, de origem religiosa, e tem sempre seus ápices em viradas de século, milênio ou em catástrofes religiosas, políticas ou naturais. Tudo parece se juntar atualmente. E é pela atualidade e poesia de um diálogo de 1654, intitulado Hospital das Letras, do escritor-fidalgo português D. Francisco Manoel de Melo, que eu aqui o reproduzo. Antes, deixo meu ceticismo, incluso em Deus e portanto da Criação (partilho do evolucionismo darwinista), de confissão que antecede a citação. Ceticismo que, como se pode ver, não me impede de perceber a beleza e difundi-la, pois é também mérito dos céticos a tolerância:

"[...] porque o mundo, se bem é verdade que se há-de acabar, não se há-de desfazer primeiro que se acabe. Com todas suas forças e faculdades se há-de ir à sepultura, e até o fim permanecerá na própria ordem em que começou, convindo assim ao maior espanto dos vivos e mais admirável crédito da Omnipotência; porque tem proporção que, assim como Deus de nada fez tudo, de tudo faça nada; e, como o mundo nunca ascendeu por graus sucessivos à sua perfeição, não desça por outros tais à sua aniquilação. Porque, se o mundo fosse por graus sucessivos caducando em suas operações, fácil conseqüência e pequena maravilha viera a ser depois o fim dele. Além de que não faltara ignorância que presumisse fora também autor de si mesmo; mas obrar hoje o mundo como o primeiro dia de sua criação e acabar-se amanhã é mistério que inculca todos os espantos e encarecimentos."

Walter Andrade

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