9 de agosto de 2012

A Poética do Amadorismo



Saudade, sentimento lusitano, dos campeonatos cariocas de tempos pretéritos: do amadorismo, das blasfêmias contra as torcidas, da provocação sadia ou não e até rebolativa (Edmundo contra o Botafogo no Carioca de 1997...e o Vasco perdeu!). Nostalgia-me o futebol-pelada dos estádios pequenos em fim de ruas estreitas, de calçamento duvidoso e buracos precisos. Negócio bem diverso deste profissionalismo insosso, do clube-empresa-sociedade anônima e de jodagores padronizados vendidos por preços fora do padrão (e dos craques antigos vendidos à preço de banana!). Penso no amor à camisa e no jogo atravessado por outros jogos de linguagem, mais afeitos ao cotidiano e à caricatura de nossas personalidades esquisitas. Quem estava consciente nos anos 1990 ainda viu a décadence da decadência. Mas é por um decadentismo - da melancolia como prazer de estar triste - que eu filtro esse olhar ao passado, visto e reconhecido como uma poética da proximidade (talvez me enterneça o Botafogo por isso). Tempos de finais como provações e de "times de chegada" substituídos por campeonatos de pontos corridos, por prudência eficaz mas imbela e equipos menos técnicas que exército-táticas mais à abutres análogas (acho que prefiro a Libertadores e a Copa do Brasil! mas até lá estes times têm vencido...). Até o Barcelona já me enfastiou um bocado, com sua obsessão pela bola que tem faltado pelo gol. A seleção brasileira: um agregado de individualidades isoladas, nada além. Torço pelos times que ainda jogam futebol e não algo parecido. É meu critério, um pouco difícil de pôr em prática ultimamente, mas eu prossigo tentando.

Pareço amargurado...mas, acho, só estou saudoso.

Walter Andrade

3 comentários:

Anônimo disse...

"Nos interessa o que não foi impresso e continua sendo escrito a mão"

E ainda tem o chip na bola, mais não sei quantos árbitros, zilhões
de câmeras em ultra definição...

Penso que a F1 também mereça um belo texto desses!

Bruno Silva disse...

Inveja, sentimento humano e controverso, desses textos escritos em confeitarias tão distantes quanto as de 1910! Inveja é humano porque eu a sinto e os cães, gatos e outros bichos, não. É controverso porque há momentos em que ela vem acompanhada de despeito, de raiva pelo feito alheio, de vontades destrutivas. Mas há momentos - e este é um - em que vem com admiração e, lá no canto, quase rouca, uma voz dizendo: filho da puta! rs

Walter Andrade disse...

JG, agradeço aí o for-ta-le-ci-men-to; mas sou contraditório (como todo ser humano), não curto muito essa ideia de que a graça do futebol fosse o pênalti mal marcado, a bola que não entrou e valeu (ou o inverso)... já até debatemos isso noutros carnavais. Quanto à F1, você fala no sentido de criticar as análises de ultrapassagens? Porque o campeonato desse ano é o melhor de todos os tempos (que eu tenha visto ao menos)!

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