21 de agosto de 2012

Curtindo a vida adoidado: entre a falta e a folga

Não sei se alguém já notou, mas um dia de falta pode recompensar mais do que um de folga. É claro que há o dia descontado, fazer o quê? Café produz gastrite; bebedeiras, ressacas. É um preço justo, o que não nos impede de tentar, por mil artifícios, o abono redentor.
Faltar um dia de escola é altamente recompensante. Faltar um dia de trabalho, revigorante. Imagine-se, então, quando se trabalha dentro de uma escola?! É a própria glória desse plano!
A falta é uma atitude transgressora, é uma tomada momentânea da felicidade de que nos privaram na época das maçãs proibídas. Quando se falta ao trabalho - sabe-o quem já fez - recupera-se um dia de ócio, que será tanto melhor se não for um do tipo criativo. A folga, por sua vez, vem com ares de concessão, de recompensa (nunca suficiente) pelo trabalho que se realizou. Por mais que represente - e representa - uma conquista dos trabalhadores, a folga nos mantém no terrítório do mundo do trabalho. Estamos ainda dentro do sistema capitalista quando tiramos um dia de folga: em geral acordamos cedo, programamos o dia, saímos ao consumo e continuamos dando corda à engrenagem. A folga é algo do qual se pretende extrair o máximo, o melhor. É boa, mas não se compara à falta, sobretudo àquela que não se adivinhava na véspera. Aquela que, de repente, aconteceu na falha do relógio, nos cinco minutos a mais, no "vou um pouco mais tarde hoje". Acaba-se acordando para almoçar, no meio da semana, sem noite que nos espere.
Quando faltamos ficamos à deriva dentro de casa, e finalmente descansamos.
Quem leu o título percebeu a referência: Save Ferris!
Mas, dirão alguns, ele faltou aula para curtir a vida adoidado, indo para vários lugares, vivendo fantásticas aventuras. Ao que argumento: pode ser, mas Ferris Bueller não estava perto dos trinta!

Bruno Silva

2 comentários:

Thiguim disse...

Viva o pensamento Fuck the Police!!!

Walter Andrade disse...

Perspicaz distinção. A folga normalmente é recheada de coisas a fazer, aquele "vou aproveitar pra...", então é difícil que seja um descanso verdadeiro. A falta nos pega de surpresa, sem planos...

Quanto ao Ferris, se bem me lembro, faltou premeditadamente...

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