13 de junho de 2013

Na pista contra o negócio



Vândalos era o nome de um povo germano que por ter invadido o Império Romano (como outros tantos povos germanos à época) tornou-se termo pejorativo (somos herdeiros da cultura greco-romana né). Mas ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão (afinal os territórios romanos eram conquistados à outros povos também...). E é no fundo linguístico e além dele que essa romanidade receia ter seu domínio contestado pela "plebe" nas ruas brasileiras (o Rio já foi chamado de A Nova Roma séculos atrás).

O vândalo agora é inimigo interno (?). Intifada nas ruas contra a ação repressora policial e reclama-se que os "manifestantes não respeitaram o patrimônio histórico", ora, querem que "gases lacrimogêneos fiquem calmos..." fora da canção! (que nem são estritamente armas não-letais, como spray de pimenta também não...), no meio da fumaça, do medo, da correria: "Por favor: mirem bem! olha a Igreja aí...". Eu, que sempre fui meio iconoclasta, considero essa proliferação de lugares de memória, de tombamento de patrimônios históricos (para que nunca tombem!) um excesso memorial que tende a fixar a ideia de conservação de tal modo que as pessoas se sintam museólogas em tudo. E o receio dos governos, da mídia, das classes altas, é de que o povo brasileiro, sempre historicamente demasiado pacífico, ordeiro, quieto...acorde de vez, deponha-os de seus lugares cativos, de sua corrupção, tirem-nos de baixo do tapete vermelho dos gabinetes onipotentes, excluídos de suas dignidades ímpares e (logo) hierárquicas. Manifestação na Turquia tudo bem, no Egito que lindo, mas no Brasil? "Arruaceiros, vândalos!".

Saiu no O Globo (!) que 37 milhões de brasileiros não têm dinheiro para o transporte público [atentem mil vezes a esta palavra]. Depois no noticiário noturno (onde não reproduzem esta matéria...) fala-se que as manifestações impedem o "direito de ir e vir". Ora, as manifestações são justamente pelo direito de ir e vir (e de se manifestar indo e vindo)!. Estamos falando de um (des)serviço prestado à população por um cartel de empresas (nalguns casos de empreiteiras, como das Barcas S.A!), caríssimo (com aumentos regulares e bem acima da inflação), com poucos coletivos na madrugada, com o ônibus que passa direto e te deixa na pista.

E na pista ficaremos, mas não mais esbravejando sozinhos como o Muttley (o cachorro do Dick Vigarista, lembram-se?), porém em comunhão, afinal, como greco-romanos que afinal somos, sabemos que o homem é um animal social, político, ritual, que ri...mas que também reage.

Walter Andrade

0 comentários:

Postar um comentário