13 de maio de 2011

Sobre Herois e Tumbas...


O falecimento foi na madrugada do último dia 30/04, dois meses antes de completar 100 anos; reduzido a um breve flash em meio à morte de Bin Laden, que é muito menos importante, como dito noutro post. Pois a figura a quem presto aqui homenagem (antes tarde do que nunca!) é ao grande escritor argentino Ernesto Sábato, vencedor do Prêmio Cervantes de Literatura e um dos maiores autores latino-americanos do século XX, escritor daquele que é considerado por muitos o maior romance hermano do último século, Sobre Herois e Tumbas (1961), onde o brilhante autor traça trajetórias de amores passionais e de amores platônicos, de delírios sobre a existência de uma certa Seita Sagrada dos Cegos, sobre o pano de fundo da dramática história do nascimento da nação argentina, entre guerras de independência entre Juan Lavalle e Juan Manuel Rosas ao Peronismo, ambientados numa Buenos Aires melancólica; tudo reunido na visão trágica (argentina!) de Sábato, aliada a uma esperança sempre renovada, humanista acima de tudo.

O humanismo seria de fato sua marca. Nascido em 1911, Sábato doutorou-se em física e, no final da década de 1940, quando se obteve a fissão do átomo de urânio, tornou-se pesquisador do Laboratório Curie, em Paris. Uma visão premonitória e apocalíptica da bomba atômica o fez abandonar a ciência e dedicar-se à literatura (em si uma atitude humanista e política). Mas não se tornou "contemplativo", antes participou ativamente da política de seu país. Sábato presidiu a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP), e entregou ao presidente Alfonsin o relatório “Nunca más“ (1985), onde estão detalhados os crimes da ditadura militar argentina (contemporâneo e inspirador do nosso "Brasil Nunca Mais" da CNBB e noutros países). Lá houve um Tribunal que julgou as juntas militares... mas isso já seria tema para outro post.

Ficamos na homenagem a um escritor que muito me incentivou a gostar de literatura, através de um livrinho de contos de outros autores selecionados por Sábato, donde me interessei em conhecer o próprio (que tão bom gosto desfilava!). E se toda pessoa é única e singular, é preciso dizer que poucas são insubstituíveis, como ele. "Curioso" (pois Sabato dificilmente concordaria com o casualismo disso) que o trágico se impõe até nesse momento, pois verifico que, como uma nota dominante em nosso texto, estivemos sempre a falar de Herois e Tumbas...

Walter Andrade

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