20 de junho de 2011

Google - O Hegel do século XXI


A Internet sucede à Era do Rádio e da TV, ou inaugura a era midiática "ativa" frente à "passiva". Na net você escolhe (ou lhe é apenas sugerido) o que ler, ouvir, ver, escrever... na hora em que você desejar. De e-mails a chats em tempo real, de jornais atualizados à pornografia, de filmes a jogos, está tudo à mão. E, para além dessas faces "lúdicas", cresce a olhos vistos projetos eruditos, como os do Google (Google Art Project, Google Livros, Google Acadêmico, Google Earth, Maps...). Chocado (positivamente) com esse alargamento do âmbito do mundo virtual - diríamos um Universo Indeterminado ou Infinito (e que falta faz não ter lido um Matrix...) - procurei descobrir o ganho utilitário disso tudo. Talvez a ampliação dos acessos e um ganho pecuniário correspondente? Sim, "nada está fora do mercado", poderíamos hoje dizer (e aqui eu salvo o materialismo). Porém é preciso ir além do limitado utilitarismo para ver o outro lado, o ideal do conhecimento total e totalizante sobre o mundo. Pois penso que o Google atualiza - a seu modo - o ideal filosófico do século XIX (que já havia aparecido noutros séculos), de Hegel e Marx e tantos outros. A ambição do saber generalizado e totalizador, a disponibilidade de fontes do século XV, XVI a qualquer pessoa do século XXI. Visitar centros de arte de Florença, Veneza, Paris, sem se locomover. Visitar sua própria casa pelo Google Earth! Dar-se o olhar do outro sendo o mesmo. Se para Hegel o real é racional e o racional é real, o Google responde que o real é o virtual e o virtual é o real.


Walter Andrade

Ps (que já não faz mais sentido, já que não escrevemos aqui à tinta): Você "curtiu" o Google Art Project? Então ficará orgulhoso de um projeto brasileiro (ao que parece anterior!) semelhante, o Era Virtual Museus. http://www.eravirtual.org/

1 comentários:

Walter disse...

Relendo a sempre nova riqueza do prefácio de Pierre Nora à obra coletiva "Lugares de Memória", acrescento que o investimento memorialístico do Google faz bem parte da nossa atual hiper-memória (virtual inclusive!), memória-arquivística, o dever de guardar tudo que nos é impossível lembrar. Os lugares de memória são, afinal, restos, tentativas de paralização da cada vez mais acelerada história, e só são necessários porque já a memória não comanda nossas vidas.

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