31 de julho de 2011

Da condição humana e outras tragédias

A vida é dinâmica: há sempre novas possibilidades, escolhas a fazer, decisões a tomar... Costuma-se atribuir a essa característica um valor todo especial: é "a graça que a vida tem!". Não há, ou não vejo, razões para tanto júbilo. A decisão mais elementar não nos foi dada, e a questão do Hamlet é apenas ilusória. Não existe a dúvida "ser ou não ser": você é e ponto final. A vida é uma ocupação da qual não se pode tirar férias, se demitir ou se aposentar. Não é grande coisa a condição humana. Resultado de um nado cego na disputa entre milhares, chegamos na vida para já começar a fenecer. Somos uma reunião de seres cujas mãos direitas estão sempre dispostas a atirarem a primeira pedra, mas as esquerdas não apresentam a mesma disponibilidade em lançar para fora a segunda sandália.
"Não adianta beber", dizem alguns; "bebida não resolve os problemas, é só ilusão!". Pode até ser, mas eu prefiro todas as dúvidas do álcool à certeza da pólvora.

Bruno Silva

3 comentários:

Walter disse...

Sim, "Ser ou não-ser" seria uma questão caso nos fosse dada aquela decisão primeira, metafísica. O sono é o mais próximo da morte, de algum "descanso de si", mas é recorrente que o seja em favor do(s) outro(s) que tememos em nós. Aliás, desse ponto de vista a 1ª pessoa do plural é nossa condição psíquica permanente. O "problema" dos esquizofrênicos é que eles acham que só há dois! Devia haver ao menos um domingo para a existência...

Bruno Silva disse...

hahahaha Genial a explicação para o problema dos esquizofrênicos.

Anônimo disse...

Narcose, tudo que fazemos para sermos "felizes" serve-nos como anestésico à dura realidade.

"Quem é sensível à influência da arte não tem palavras o suficiente para louvá-la como fonte de prazer e consolo para a vida. No entanto, a suave narcose em que a arte nos coloca não é capaz de produzir mais do que uma fugaz libertação das desgraças da vida, e não é forte o bastante para fazer esquecer a miséria real."

(Freud in: O mal-estar na cultura. L&M Pocket, p. 71)

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