31 de outubro de 2011

7 bilhões de pessoas num mundo sem Drummond

Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos/
Os percevejos heroicos renascem/
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado/ E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.


Esse é um trecho de "O sobrevivente", poesia que Carlos Drummond de Andrade publicou em 1930, no livro "Alguma poesia". É, não resta dúvida, curioso para nós que já em data tão recuada do século passado a sensação de saturação do mundo estivesse, para os mais sensíveis, evidente. Esse poema poderia ter sido escrito hoje, 31 de outubro de 2011, quando a ONU revela que o mundo está com sete bilhões de habitantes. Na época em que Drummond publicou seu poema, a população mundial era de, mais ou menos, dois bilhões. Dá vontade de construir um imenso reservatório de água potável (hoje mais difícil de encher do que antes) e garantir que meu filho, quando ele vier, não terá que beber a água do mar. O mundo está mais habitado e mais inóspito. Está, também, sem o poeta de Itabira, que faria aniversário hoje. Impressionante como, num mundo com sete bilhões de pessoas, uma em especial faça tanta falta!


Bruno Silva


(texto dedicado à saudosa professora Elenice, in memoriam)

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