31 de outubro de 2011

Notas Avulsas

Da série (não é ainda bem uma série, mas pode vir a ser, como o comercial do MacSalada) Notas Avulsas: * Lamentável a reverência servil brasileira à Europa ou aos E.U.A, encontrada até mesmo em alguns acadêmicos em relação (de inferioridade) junto aos estudiosos europeus, considerados "mais eruditos" e de uma "cultura" um (dois, três?) passos adiante. É a velha ideia de civilização eurocêntrica, e o correspondente "pensamento colonizado" que gera. O fim da colônia não extirpou ainda a colonização das ideias, como a da economia, política, etc. Igualmente identificável num movimento que quer impor a escrita acadêmica em línguas como o inglês, e publicar no exterior, "para ser mais lido". Ora, se eu escrevo sobre Brasil ou Espanha, me interessa (ao menos "obrigatoriamente") publicar no Brasil,...

7 bilhões de pessoas num mundo sem Drummond

Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos/ Os percevejos heroicos renascem/ Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado/ E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio. Esse é um trecho de "O sobrevivente", poesia que Carlos Drummond de Andrade publicou em 1930, no livro "Alguma poesia". É, não resta dúvida, curioso para nós que já em data tão recuada do século passado a sensação de saturação do mundo estivesse, para os mais sensíveis, evidente. Esse poema poderia ter sido escrito hoje, 31 de outubro de 2011, quando a ONU revela que o mundo está com sete bilhões de habitantes. Na época em que Drummond publicou seu poema, a população mundial era de, mais ou menos, dois bilhões. Dá vontade...

24 de outubro de 2011

A morte de Kadafi e a questão: como se matar um ditador?

A humanidade tem umas coisas esquisitas. Por exemplo: existiu, durante muitos séculos, uma literatura voltada para as formas do bem-morrer. Ensinava-se a maneira mais adequada para se passar dessa para outra (melhor? pior? igual?). Na idade média, o ideal era morrer de forma lenta e até dolorosa, expiante. Hoje existe um sonho macabro: morrer subitamente, morrer enquanto dorme (o que duvido que seja possível, mas que, certamente, produziria a desconsertante sensação de "acordar morto"). Na idade média, ao contrário, seria signo de azar morrer dessa forma, pois qualquer um poderia ser tocado pela morte em momentos de pecado, além de não sobrar tempo para o arrependimento, a última confissão, etc. Nos últimos tempos a história ganhou um novo capítulo: como se deve matar um ditador ou terrorista...

13 de outubro de 2011

Poesia diagnóstica

Já fui muito ingênuo. Acreditava que eu era um poeta, e que os poetas morriam sempre do coração. Ficava com um caderninho tosco e uma caneta na mão, anotando aquelas coisas que me vinham na cabeça e que eu supunha serem dádivas de Érato. Depois abandonei o caderno, mais ou menos na mesma época em que os homens desaprenderam a escrever à mão. E quando a tristeza sobrevinha, eu a afogava em lágrimas de lúpulo, cevada ou malte. Nunca mais caderno. Na semana passada adoeci um pouco: fortes dores, distensões no abdômen, dificuldades de locomoção. Várias idas ao posto de saúde, veias tricotadas, exames... descobri uma pequena alteração no fígado. Destino de Prometeu. Talvez precise voltar para o caderno. Bruno Si...

1 de outubro de 2011

Eu Vou ao Rock In Rio?

  O Rock in Rio - quando há rock ou ritmos adjacentes, ou mesmo o pop bem feito - têm sido até aqui melhor que eu esperava (eu e mais muitos pelo que tenho percebido). Algumas pessoas, como eu, que não estavam nem aí pro evento têm se sentido "caramba, será que não vou nenhum dia?". O Palco Sunset roubou a cena do Palco Mundo, com Joss Stone, Janelle Monae (que é o espetáculo em si, pois é uma performista), Angra + Tarja, Sepultura com a percussão do Tambours du Bronx, Nação Zumbi com Tulipa Ruiz, enfim, misturas bem pensadas e praticadas, de gente que está no evento por amor à música e ao experimentalismo que herda de festivais como Woodstock. No Palco Mundo há obscenidades (de obs-cena, aquilo que deveria não aparecer!), como NX Zero...